8 de outubro de 2012

Nascidos para morrer

           "Eu gostaria de poder comunicar a todas as criaturas e pessoas, no resplendor de meus bons tempos enluarados, o mistério enevoado do leite mágico visto na Fantasia Profunda da Mente onde aprendemos que tudo é nada - no caso, eles iriam se preocupar mais, exceto após o instante em que pensam em se preocupar novamente - Todos nós trêmulos em nossas botas de mortalidade, nascidos para morrer[...]"

Jack Kerouac em seu livro Tristessa

21 de setembro de 2012

Zea mays - Milho

      "Seja qual for o método, o certo é que conseguiram criar [os Mesoamericanos] a primeira planta totalmente "fabricada" ou "engenheirada"  que o mundo já viu - tão completamente manipulada que agora depende de nós para sobreviver. Como os grãos de milho não se soltam espontaneamente da espiga, se não forem deliberadamente debulhados e plantados, o milho não pode se reproduzir. Se o homem não cuidasse dele continuamente há milhares de anos, o milho estaria extinto. Os inventores do milho não criaram apenas  um novo tipo de planta; criaram também - a partir do nada, realmente - um novo tipo de ecossistema que não existia em parte alguma do seu mundo. Na Mesopotâmia já havia pradarias naturais por toda a parte; portanto, o cultivo se resumia em transformar esses campos de grãos nativos em plantações manipuladas pelo homem, de qualidade superior. No entanto, nas regiões áridas da América Central as plantações naturais eram desconhecidas. Tiveram de ser criadas a partir do zero por gente que nunca vira tal coisa antes. Era como se alguém em pleno deserto imaginasse um deserto. 
      Hoje o milho é muito mais indispensável do que a maioria das pessoa imagina. O amido de milho é usado na fabricação de refrigerantes, gomas de mascar, sorvetes, manteiga de amendoim, cola para encadernar livros, ketchup, pintura de automóveis, formol, pólvora, inseticidas, desodorantes, sabonetes, batata frita, curativos cirúrgicos, esmaltes de unha, talco, molhos de salada e centenas de outras coisas. Citando Michael Pollan, parece que nós não domesticamos o milho; na verdade, foi o milho que nos domesticou."

Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson; 2010 pela Companhia das Letras. P. 55




18 de setembro de 2012

Enquanto isso, no séc. XIX...

      "O fato de Effie Ruskin ter escapado do seu casamento infeliz foi um golpe de sorte, algo muito incomum, pois no século XIX o divórcio, como tudo o mais que tinha a ver com o casamento, era extremamente tendencioso em favor dos homens. Para obter o divórcio na Inglaterra vitoriana, um homem só precisava mostrar que a esposa havia dormido com outro homem. Uma mulher, porém, teria que provar que o esposo havia agravado a infidelidade cometendo incesto, bestialidade ou alguma transgressão sinistra e indesculpável, extraída de uma lista muito reduzida. Até 1857, uma mulher divorciada tinha que abrir mão de todos os seus bens, e em geral perdia também os filhos. De fato, perante a lei uma mulher não tinha direito algum - nem direito à propriedade, nem direito à expressão, nem liberdade de qualquer tipo além das que o marido houvesse por bem lhe conceder. Segundo William Blackstone, grande especialista em teoria jurídica, após o casamento a mulher abria mão "do seu próprio ser, ou existência legal". A condição de esposa não era uma figura jurídica, de espécie alguma.
       Alguns países eram ligeiramente mais liberais do que outros. Na França, a título excepcional, uma mulher poderia se divorciar de um homem em razão apenas de adultério, mas só se a infidelidade tivesse ocorrido no domicílio conjugal. Na Inglaterra, porém, as normas eram de uma injustiça brutal. Em um caso bem conhecido, uma mulher chamada Martha Robinson passou anos sofrendo espancamentos e maus-tratos  de um marido cruel e instável. Por fim ele lhe transmitiu gonorreia e depois a envenenou, quase conseguindo matá-la, colocando um pó antivenéreo na sua comida sem que ela soubesse. Alquebrada na saúde e no espírito, ela pediu divórcio. O juiz ouviu atentamente os argumentos e em seguida arquivou o caso e mandou a sra. Robinson para casa, com instruções para tentar ser mais paciente."




Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson; 2010 pela Companhia das Letras. P. 353


Retrato [1853] de Effie pelo artista John Everett Millais, com quem ela fugiu depois do divórcio e teve oito filhos; 

11 de setembro de 2012

Pimenta em conserva e molho de pimenta


Para a conserva:
Depois de escaldar o vidro encha-o de pimenta dedo de moça sem os talos,  3 ou 4 dentes de alho, bolinhas de pimenta do reino, 2 colheres de sopa de sal, 2 folhas de louro. Depois complete até a boca com vinagre branco.

Para o molho:
Escalde a pimenta, tire os talos e triture com os dentes de alho, o sal e o vinagre. Depois de colocar no vidro ponha uma folha de louro e complete com vinagre.

Dicas:
-Trabalhe com luvas e máscara, o ardor da pimenta pode ser muito incômodo.
-Quanto menos água for para dentro da conserva, melhor. Lave as pimentas algumas horas antes, para elas secarem bem.
-Deixe a pimenta curtir por pelo menos uma semana antes de começar a consumir.
-Complete quando o vinagre abaixar, sugado pela carne da pimenta.



2 de setembro de 2012

Gardening for Ladies

       


     "A sra. Loudon foi ainda mais bem-sucedida do que o marido, graças a um único trabalho: Pratical instructions in gardening for ladies [Instruções práticas de jardinagem para senhoras], publicado em 1841, obra magnificamente oportuna. Foi o primeiro livro, de qualquer tipo, que incentivou as mulheres das classes elevadas a sujar as mãos e até mesmo ganhar um leve brilho de suor com a transpiração. Isso tudo era tão novo que quase chegava ao erotismo. Gardening for ladies insistia bravamente que as mulheres podiam fazer jardinagem sem supervisão masculina, bastando guardar algumas precauções - Trabalhar com afinco, mas não muito vigorosamente, usar apenas ferramentas leves e nunca pisar em solo úmido, devido às emanações insalubres que podiam subir pelas saias. O livro parece supor que a leitora quase nunca havia estado ao ar livre, muito menos posto as mãos em uma ferramenta de jardinagem. Eis aqui, por exemplo, a sra. Loudon explicando o que faz uma pá:

                     A operação de escavação, assim como realizada por um jardineiro, 
consiste em empurrar a parte de ferro da enxada, que age como uma cunha, 
perpendicularmente ao solo, através da pressão do pé, e depois usar 
o cabo longo como uma alavanca, para levantar a terra solta e jogá-la para trás.

          O livro inteiro é assim, descrevendo em detalhes quase dolorosos as ações mais corriqueiras e óbvias, como a extremidade da pá que se deve enfiar na terra. Hoje é praticamente ilegível, e provavelmente não foi muito lido na época. O valor de Gardening for ladies não reside tanto no que continha, mas no que representava: a permissão para sair e fazer alguma coisa. O livro surgiu no momento certo para cativar a fantasia do país. Em 1841, as mulheres de classe média em todos os lugares estavam entediadas até a loucura pela rigidez da vida que levavam, e agradeciam a qualquer sugestão de diversão. Gardening for ladies permaneceu em catálogo, lucrativamente, até o fim do século. E realmente consegui incentivar mulheres a sujar as mãos. Todo o segundo capítulo é dedicado ao esterco."

Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson.
2010 pela Companhia das Letras. P. 293



28 de agosto de 2012

Little Nipper

                "Em 1897, James Henry Atkinson, jovem dono de uma loja de ferragens em Leeds, pegou uma tabuinha de madeira, um arame rígido e não muito mais do que isso, e criou um dos maiores inventos da história: a ratoeira. É um dos vários objetos úteis - como o clipe de papel, o zíper ou o alfinete de fralda, entre muitos outros - inventados no séc XIX que desde o início foram praticamente perfeitos, de modo que quase não receberam melhoramentos nas décadas seguintes. Atkinson vendeu sua patente por mil libras esterlinas, uma soma considerável para a época, e depois foi pai de outros inventos, mas nenhum deles lhe trouxe tanto dinheiro e imortalidade.
                Sua ratoeira, fabricada sob o nome comercial de Little Nipper [pequena mordedora], já foi vendida às dezenas de milhões, e continua acabando com os camundongos com eficiência brutal, no mundo todo. [...]"


Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson.

2010 pela Companhia das Letras. P. 260


Desenho de James Henry Atkinson para a patente da sua ratoeira, 1899.

20 de agosto de 2012

"A Terra não era nada além de bocas e cus engolindo e cagando e fodendo"

Misto quente - C. Bukowski





19 de agosto de 2012

Notas sobre a cozinha II


Entre todas as “arte-manhas” dos Homens, de certo, considero a gastronomia a melhor delas. De fato comer é uma necessidade básica, mas, me refiro à maneira de manejar e recombinar o alimento e na variedade de coisas disponíveis para o preparo da nossa comida. Encaro a cozinha como um laboratório experimental, onde é possível combinar diversos ingredientes, explorando e se familiarizando com as possibilidades e elementos. Cozinhar é uma das maneiras de estar disposta e imersa no mundo e nas suas relações.

16 de agosto de 2012

Notas sobre a cozinha I


Na última terça feira fui convidada para participar da produção do curta-metragem, e por fim, aceitei ficar responsável por umas das coisas que mais gosto e sei fazer: cozinhar. De cara posso listar inúmeras qualidades dessa função. Me lembro quando trabalhei por algumas semanas no zoológico de Sorocaba, percebi um dia, que minha blusa verde atraía o hipopótamo e alguns outros animais. Depois fui descobrir que essa era a cor do uniforme dos tratadores, ou seja, quem levava a comida.  Outra situação foi quando estive por dez dias internada em um SPA, onde a comida era bem controlada, e apesar de não ter passado fome, a “vontade de comer” era constante. O assunto das conversas entre o pessoal sempre acabava em comida. Mas em especial, percebi o carinho que todos tinham com as meninas da cozinha, afinal, como no zoológico, eram elas que alimentavam os gordinhos. Talvez cozinhar para as outras pessoas incite o carinho.


25 de abril de 2012

6 de janeiro de 2012

TERESA - Projeto para o Centro Cultura São Paulo

Teresa: corda feita de lençóis ou roupas; Geralmente usadas para fugas;

A máquina de costura estará próxima à teresa de meia-calça  que ficará presa no gradio do piso Caio Graco no Centro Cultural São Paulo e descerá até o piso das bibliotecas. 

 

Uma ação que resultará em uma instalação. Com uma máquina de costura a teresa de meias-calça será confeccionada, a corda irá aumentar durante o tempo da exposição, novas meias serão costuradas pela artista.  


As meias-calça serão arrecadadas com outras mulheres.