2 de setembro de 2012

Gardening for Ladies

       


     "A sra. Loudon foi ainda mais bem-sucedida do que o marido, graças a um único trabalho: Pratical instructions in gardening for ladies [Instruções práticas de jardinagem para senhoras], publicado em 1841, obra magnificamente oportuna. Foi o primeiro livro, de qualquer tipo, que incentivou as mulheres das classes elevadas a sujar as mãos e até mesmo ganhar um leve brilho de suor com a transpiração. Isso tudo era tão novo que quase chegava ao erotismo. Gardening for ladies insistia bravamente que as mulheres podiam fazer jardinagem sem supervisão masculina, bastando guardar algumas precauções - Trabalhar com afinco, mas não muito vigorosamente, usar apenas ferramentas leves e nunca pisar em solo úmido, devido às emanações insalubres que podiam subir pelas saias. O livro parece supor que a leitora quase nunca havia estado ao ar livre, muito menos posto as mãos em uma ferramenta de jardinagem. Eis aqui, por exemplo, a sra. Loudon explicando o que faz uma pá:

                     A operação de escavação, assim como realizada por um jardineiro, 
consiste em empurrar a parte de ferro da enxada, que age como uma cunha, 
perpendicularmente ao solo, através da pressão do pé, e depois usar 
o cabo longo como uma alavanca, para levantar a terra solta e jogá-la para trás.

          O livro inteiro é assim, descrevendo em detalhes quase dolorosos as ações mais corriqueiras e óbvias, como a extremidade da pá que se deve enfiar na terra. Hoje é praticamente ilegível, e provavelmente não foi muito lido na época. O valor de Gardening for ladies não reside tanto no que continha, mas no que representava: a permissão para sair e fazer alguma coisa. O livro surgiu no momento certo para cativar a fantasia do país. Em 1841, as mulheres de classe média em todos os lugares estavam entediadas até a loucura pela rigidez da vida que levavam, e agradeciam a qualquer sugestão de diversão. Gardening for ladies permaneceu em catálogo, lucrativamente, até o fim do século. E realmente consegui incentivar mulheres a sujar as mãos. Todo o segundo capítulo é dedicado ao esterco."

Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson.
2010 pela Companhia das Letras. P. 293



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