18 de setembro de 2012

Enquanto isso, no séc. XIX...

      "O fato de Effie Ruskin ter escapado do seu casamento infeliz foi um golpe de sorte, algo muito incomum, pois no século XIX o divórcio, como tudo o mais que tinha a ver com o casamento, era extremamente tendencioso em favor dos homens. Para obter o divórcio na Inglaterra vitoriana, um homem só precisava mostrar que a esposa havia dormido com outro homem. Uma mulher, porém, teria que provar que o esposo havia agravado a infidelidade cometendo incesto, bestialidade ou alguma transgressão sinistra e indesculpável, extraída de uma lista muito reduzida. Até 1857, uma mulher divorciada tinha que abrir mão de todos os seus bens, e em geral perdia também os filhos. De fato, perante a lei uma mulher não tinha direito algum - nem direito à propriedade, nem direito à expressão, nem liberdade de qualquer tipo além das que o marido houvesse por bem lhe conceder. Segundo William Blackstone, grande especialista em teoria jurídica, após o casamento a mulher abria mão "do seu próprio ser, ou existência legal". A condição de esposa não era uma figura jurídica, de espécie alguma.
       Alguns países eram ligeiramente mais liberais do que outros. Na França, a título excepcional, uma mulher poderia se divorciar de um homem em razão apenas de adultério, mas só se a infidelidade tivesse ocorrido no domicílio conjugal. Na Inglaterra, porém, as normas eram de uma injustiça brutal. Em um caso bem conhecido, uma mulher chamada Martha Robinson passou anos sofrendo espancamentos e maus-tratos  de um marido cruel e instável. Por fim ele lhe transmitiu gonorreia e depois a envenenou, quase conseguindo matá-la, colocando um pó antivenéreo na sua comida sem que ela soubesse. Alquebrada na saúde e no espírito, ela pediu divórcio. O juiz ouviu atentamente os argumentos e em seguida arquivou o caso e mandou a sra. Robinson para casa, com instruções para tentar ser mais paciente."




Trecho do livro Em casa. Uma breve história da vida doméstica de Bill Bryson; 2010 pela Companhia das Letras. P. 353


Retrato [1853] de Effie pelo artista John Everett Millais, com quem ela fugiu depois do divórcio e teve oito filhos; 

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